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sábado, 4 de dezembro de 2010

Uma das minhas admirações !

A Paixão segundo G.H

'Se eu for adiante com minhas visões fragmentárias, o mundo inteiro teria que se transformar para eu caber nele.
O que eu mais tenho medo é do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo, quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo. Como se explica que o maior medo seja o de exatamente ir vivendo o que for sendo? Como é que se explica que eu não tolerei ver, só porque a vida não é o que eu pensava. Do meu próprio mal eu teria criado um bem futuro. O medo agora é que meu novo modo não faça sentido. Mas porque não me deixo guiar pelo oque for acontecendo? Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.
Mas estou tão pouco preparada para entender. Cedo fui obrigada a reconhecer sem comentar os esbarros da minha pouco inteligência. Sabia que estava fadada a pensar,pouco raciocinar me restringia dentro da minha pele. Como pois, inaugurar agora em mim o Pensamento? Talvez só o pensamento me salvasse.
Estou tão assustada que só poderei aceitar que me perdi se imaginar que alguém me está segurando a mão.
Muitas vezes antes de adormecer, nessa pequena luta por não perder a consciência,antes de ter a coragem de ir para a grandeza do sono, finjo que alguém está me dando a mão, e então eu vou. E quando mesmo assim não tenho coragem, eu sonho. Ir para o sono, parece tanto com o modo que tenho de ir para minha liberdade. Entregar-me ao que não entendo, será pôr-me a beira do nada. Essa coisa do sobrenatural é viver. 
Viver é a verdade que nunca me fez sentido. É por isso que eu a temo. É preciso coragem para me aventurar numa tentativa de concretização do que sinto. É como se eu tivesse uma moeda e não  soubesse em que país ela vale.

Qualquer entender meu nunca estará a altura a que posso chegar. Meu único nível é viver !'





 Escrito por Clarice Linspector. O que mais me admira é o modo como se expressa, e não tem medo de admitir seus próprios medos.

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